Oriundo da cidade de Fortaleza, no nordeste do Brasil, Luis Pereira, mudou-se para o Rio de Janeiro, com sua esposa, Edir Trigueiro e seus cinco filhos. E assim como qualquer retirante nordestino em busca de melhores oportunidades, na cidade maravilhosa, enfrentou as dificuldades naturais de qualquer cidadão migrador da década de 1960. Na época, Luis e Edir já tinham oito anos de casamento. Edir tinha vinte e cinco anos de idade. Luiz viajou primeiro, antes que o resto da família. Ele era um jovem bonito que adorava dançar. Após alguns meses, Edir começou a ser provocada por outros: "Luiz deve ter feito algumas conquistas. Ele nunca mais vai voltar. Edir decidiu partir com as crianças e seus poucos pertences e juntar-se ao marido, sem aviso prévio. Ele havia encontrado uma pequena casa, pouco digna desse nome, em Niterói, do outro lado da baía do Rio. A travessia era de balsa; naqueles dias, a ponte de catorze quilômetros que ligava os dois lugares ainda não havia sido construída. Luiz, que trabalhava assentando azulejos no chão, teve que sair de sua casa às 4h da manhã para estar no trabalho às 7h da manhã. A casa em Niterói era úmida, sem água ou eletricidade, localizada no topo de uma colina. Edir passou seu tempo descendo o morro para buscar água, que depois teve que ser levada para cima do morro. Mas Edir estava orgulhosa. Ela escreveu para Fortaleza dizendo que tudo estava bem e deu seu endereço de casa como o de alguém que morava no fundo da colina.
Após cinco meses nesta situação, Edir relutantemente concordou em morar perto de uma tia que vivia na Favela São João. Tudo isso foi difícil. Ela tinha tido uma vida confortável no Nordeste, seu pai ganhava um bom salário. Novamente, sua casa estava no topo de uma colina íngreme. Luiz teve que construir uma cerca para evitar que as crianças caíssem. Edir teve que descer e fazer fila na torneira pública para obter água antes de voltar por um caminho pedregoso, uma lata cheia em sua cabeça. Envergonhada pela sua situação, ela não fez amizade com seus vizinhos. Se alguém batia na porta, ela se escondia e fingia que não estava lá. Luiz se adaptou melhor e se tornou muito popular na favela. Um bom sambista, participou de todas as festas e festivais, mas nunca levou sua família com ele. Após alguns anos, doze longos anos, Edir se tornou cada vez mais cheia de amargura. Ela falou incessantemente em se separar. Mas, sem dinheiro, para onde ela poderia ir? Sua insistência levou a discussões crescentes em casa.
Enquanto isso, as tensões aumentavam na favela. O proprietário do terreno sobre o qual os moradores da favela haviam construído suas casas ameaçava de despejo. Ele começou a cumprir sua ameaça, demolindo trinta e sete casas. Os vizinhos acolheram os sem-teto enquanto esperavam a reconstrução. Luiz foi um dos que assumiu a defesa dos moradores da favela. Após um incidente envolvendo a polícia, ele encontrou José de Almeida, que o ensinou a começar seu dia com um tempo de silêncio, voltando-se para Deus para pedir orientação nas decisões que ele tinha que tomar. José de Almeida apresentou-lhe então, o grupo de Oxford e a doutrina do “Rearmamento Moral”, de Frank Buchman. Esta experiência deu a Luiz Pereira a oportunidade de viajar pelo mundo. E agora não era apenas em função das causas e dos projetos sociais, mais também por nobres e valorosos conceitos humanos, como a absoluta honestidade, a pureza, o altruísmo e o completo amor em prol da agregação familiar; vertentes principais da ideologia do Rearmamento Moral.
Logo de um tempo da prática do tempo em silêncio, Edir notou uma mudança em seu marido. Ele parou de beber e começou a levá-la para as festividades distritais. Ela notou a nova força interior de seu marido. Certa manhã, Luiz pensou em ver o Governador do Estado para pedir ajuda. Durante a inauguração de uma nova escola, ele conseguiu chegar até ele e dizer algumas palavras. Ele atingiu seu objetivo. As expulsões foram interrompidas. Mas as atividades de Luiz ocuparam todo o seu tempo às custas da família, e ele foi pego em disputas, o que preocupou sua esposa. E as dificuldades diárias da vida nas favelas continuaram.
Um dia, durante a paz da sesta do meio-dia, na casa de um médico onde ele estava colocando um piso de azulejos, Luiz estava refletindo sobre a situação em sua favela. Ocorreu-lhe uma ideia: "Chame o Ministro do Interior". Mas que chance ele tinha de conseguir passar? Sem procrastinar, no entanto, ele agiu imediatamente. Para sua grande surpresa, ele conseguiu contatar o Ministro que lhe disse para vir vê-lo. Assim, alguns dias depois, ele foi recebido junto com alguns dos outros envolvidos. Luiz contou ao Ministro sobre as 560 famílias da favela, o risco de expulsão a que estavam expostas e o plano de realocação que ele havia elaborado. Seu plano não era viável, mas uma alternativa foi encontrada. Após longas negociações, aos moradores de favelas foram oferecidos novos apartamentos, a apenas algumas centenas de metros de suas casas originais.
Durante as obras, Luiz notou que muitos dos envolvidos na construção não estavam qualificados. Ele pediu àqueles que pareciam mais qualificados para ensinar seu ofício aos outros, o que eles fizeram. Ao descobrir o que estava acontecendo, o Governador do Estado endossou oficialmente a prática, dando àqueles que foram aprovados como instrutores um bônus em reconhecimento ao que estavam fazendo. Enquanto isso, mulheres de fora da favela foram ensinar as esposas a cozinhar com gás (não haveria mais fogos de lenha), e alguns outros aspectos úteis de como viver em um apartamento.
Uma vez que o trabalho foi iniciado, as coisas se desenvolveram rapidamente. De suas casas precárias, os moradores das favelas puderam ver os novos prédios subindo. Eles deveriam se tornar cidadãos reconhecidos, como outros, com um endereço próprio. Chegou o dia em que os caminhões em movimento chegaram para levá-los e seus pertences para o novo local, uma casa após a outra. A vez da Edir chegou em 20 de maio de 1971. Ao entrar na cozinha e no banheiro, ela parou na frente das torneiras. Este foi o fim de longos anos de transporte de água.
Como família, eles se tornaram muito mais próximos. Profissionalmente, Luiz aprendeu a trabalhar como parte de uma equipe. Ele e Edir organizaram reuniões semanais de amigos e colegas para ajudar a resolver problemas na área. Então, durante o verão de 1973, eles foram convidados a se juntar à delegação brasileira em Caux. Edir estava insegura. Luiz estava convencido de que eles deveriam ir e insistiu que Edir fosse com ele. O povo ajudou com as finanças para a viagem e eles mesmos contribuíram o máximo que puderam.
Em Caux eles receberam uma calorosa acolhida. Uma noite, jantando com um jovem casal, a outra mulher contou como havia chegado a amar alguém que ela odiava. Após a refeição, Edir foi para seu quarto. Ela precisava estar sozinha. Ela queria dormir, mas não conseguia. Imagens de Fortaleza voltaram para ela, e de sua mãe ainda vivendo lá. A última vez que eles se encontraram foi no Rio, na favela. Sua mãe continuou comparando Edir com suas irmãs que estavam confortavelmente longe e viviam em casas agradáveis. Edir tinha ciúmes delas. Mãe e filha brigaram e sua mãe saiu dizendo que nunca mais voltaria. Edir respondeu que, nesse caso, ela nunca mais quereria ver sua mãe. Esta situação problemática tinha continuado por dez anos.
Edir teve o pensamento de escrever para sua mãe e pedir perdão. Ela o fez no dia seguinte. Ela nunca esperava uma resposta, mas ela veio muito rapidamente, pouco antes de deixarem a Suíça. De volta para casa, ela o mostrou a seus filhos. Ela sentiu que deveria ir para Fortaleza com Luiz. Seu filho se ofereceu para pagar a viagem. Foi longa e cansativa, três dias e duas noites de ônibus, mas Edir não se arrependeu. Seis meses após a reconciliação, sua mãe morreu.
Luiz e Edir haviam conseguido mudar as condições de suas próprias vidas, mas depois de tudo o que haviam experimentado, não puderam parar por aí. "Devemos ajudar todos aqueles que ainda vivem nas favelas a ter, um dia, um lar como o nosso. Também devemos lutar para que o espírito comunitário nascido naqueles barracos de madeira não morra dentro das paredes de concreto de nossos novos apartamentos e casas". Após uma grande persistência, desenvolveram-se conversas mais amplas. A decisão mais difícil que Luiz teve que tomar foi afirmar a seus pares sua oposição à violência. "É sempre o cara mais duro que se torna o chefe, e eu tinha medo de ser visto como um covarde", disse ele. Longe de ser um covarde, ele perseverou, assumiu riscos e manteve a cabeça fria, manteve-se firme em meio a brigas entre clãs rivais e conquistou o respeito dos "padrinhos" das favelas, que não ousaram atacar abertamente os protagonistas das iniciativas sociais. isto foi muito apreciado pelo povo. Luiz ficou satisfeito quando viu dezenas de milhares de novas casas construídas para realojar os favelados.
Essas e outras tantas façanhas foram realizadas por um casal que buscou inspiração de Deus no silêncio de suas manhãs e agiu em obediência ao que entendiam, era seu chamado. Foram conscientes do exercício de sua cidadania, não só para o Brasil, mas também para o mundo.
Fontes:
- Livro de Daniel Dommels "Rearmamento Moral na América Latina".
- Tese "Los bastidores de la historia y sus personajes anónimos" Autor: Alexandre Jairo dos Santos (genro de Luiz Pereira)